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Fuga

Eu sempre tive um sonho não importava quanto tempo passasse o quanto eu mudasse ele permanecia ali criando raízes no meu peito se emaranhando nos meus projetos florescendo e apodrecendo dentro da minha mente Eu sempre tive um sonho Sempre sonhei em sumir Para cada época da minha vida isso significou algo diferente Em minha infância, sumir significava explorar o mundo cair na estrada e não voltar até ter visto cada canto desse planeta conhecer os países, mares, pessoas saber de cor todas as cidades por onde passei conseguir sentir o gosto dos temperos mais exóticos pela memória Eu planejava tanto o dia em sumiria no mundo rodava o globo terrestre, decorando os nomes de cada lugar onde meus pés pisariam França, Escócia, Bangladesh, Japão ainda havia tempo para que eu aprendesse todas as suas línguas Para que um mundo tão grande, afinal se eu não vou vê-lo de uma ponta a outra? Os anos se passaram Em minha pré-adolescência, sumir mudou para não existir Eu sei, é triste não tanto quanto fo

Apatia de novembro

Cada batida no meu peito exige esforço Cada inspiração, força de vontade que não tenho A apatia invadiu meu ser mais uma vez Terei algum dia sossego? Sei que é apenas uma onda mas até o menor dos movimentos me cansa Sei que isso também passará até lá, a existência me fatiga Não me sinto bem em nada A boa filha aluna aplicada amiga dedicada moça cheia de luz saiu de férias não sei onde está tampouco quando voltará Onde foi parar minha confiança? Ainda ontem, cá estava Em seu lugar, sobrou a garotinha insegura é uma retrospectiva dolorosa Detesto a solidão mas não tenho forças para a companhia Sinto-me boiar - não sei se quem está morto é meu corpo ou o mar - as ondas me levam a lugares estranhos e cansei de nadar Isso também passará sim, eu sei vou me permitir um pouco de dor quem sabe ela me faça sorrir depois

A loucura em acreditar

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Não lembro de, outra vez na vida, ter presenciado uma desesperança tão gigantesca como a que percebo hoje; não que eu tenha vivido muito para notá-la em outros momentos, é claro. No entanto, a descrença no futuro que parece me circundar é quase devastadora. Há, sem sombra de dúvidas, motivos para isso: pandemias mortais, fome descontrolada, governos incompetentes; uma lista enorme de razões para perder a fé na humanidade. Não há como condenar quem não enxerga saída. É muito mais razoável, inclusive, que tentar manter a esperança viva. Acreditar que dias melhores virão é difícil quando tudo a seu redor parece desmoronar. Quando o mundo inteiro afoga em caos. Apesar disso, não acho que nos reste muito além. Sem esperança de um futuro, para que continuar vivo? Não há outra razão que nos prenda à vida. É uma motivação utópica, quase irracional, para ter forças de levantar da cama todos os dias; não deixa de ser uma motivação, no entanto. O desânimo e o pessimismo são lógicos e têm base par

Incerteza

 Querido amor escrevo-te sem sequer saber quem és não por anseio ou saudade por dentro de mim ter mais poesia que meu peito pode suportar Tenho palavras presas na garanta versos escorrem-me do olhar Deus meu, acuda-me sabia ou não sabia o sabiá assobiar? A dúvida é tanta, tanta que é esse tambor dentro de mim? tem, por acaso, neurônios a pensar? tem, por acaso, ambição para sonhar? tem, por acaso, sensibilidade para chorar? E eu? Talvez um dia encontre meu lugar isso, é claro, se sequer haja algum espaço para mim se há, seria um ou mais? nessa terra ou nos confins do espaço? amanhã ou há um milhão de anos? Mundo mundo vasto mundo tão vasto que não cabe em mim tão vasto que precisa haver espaço meu Haveria, no entanto, um lugar reservado na grande história? Quem contaria a minha? Não sei se há máquina que já não tenha sido inventada poema que não tenha sido escrito pintura que não tenha sido desenhada emoção que não tenha sido sentida e traduzida sequer sei se isso importa Mais vale viv